Error 404 – Not Found

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Acho que a tristeza e a melancolia que acometia Eugène Colère enquanto apaga nomes de caderneta de telefone, eu também sinto quando páginas desaparecem da minha aba de favoritos.

Há 25 anos eu tive contato com um bando de piás (literalmente) que adoravam escrever na web. As coisas internéticas eram incipientes nesta época, mas os escritos deles estavam num ritmo de speed com absinto, e eu me divertia lendo tanta coisa diferente, com abordagens literárias diferentes. Num dia, quando abri a página, uma nota (quase lacônica) dizia que o ‘projeto’ se encerrava.

Como nem fazia um ano que eu estava lendo seus escritos, não senti tanto na época. Meses depois, escafedeu-se do mundo binário.

Hoje, reconheci que um blog português que eu lia regularmente sumiu. Ele tinha muitos recortes e cartuns do noticiário internacional e religiosamente eu abria a página para ler o que ele (o blog) iria trazer de seu interesse na página. Por estes recortes, e pelo pouco que se reservava a escrever em suas próprias palavras, percebi que ele/ela deveria ser mais velho do que eu, formação acâdemica em humanas (prevalências de alguns tópicos) e o humanismo como referencial (temas de direitos humanos ou de sua ausência eram recorrentes).

Há alguns anos atrás, a página foi interrompida, sem nenhuma nota. Agora, a página sumiu, com todos os textos, cartoons e comentários.

A pasta de favoritos está virando um imenso cemitério…

Watchers of morality
Told by the hierarchy
Machine to society
Falling to conformity
Terrified to speak your mind
Passes down the government
Doesn’t matter who you are
For our own good

C.I.U. (Criminals in Uniform) by Sepultura and a curious Katherine Ludwig Moses

Deluxe Edition

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Apesar de ser um assalariado, tenho o privilégio de trabalhar ouvindo música. E hoje de manhã, estou ouvindo no modo ‘repeat’ uma versão de ‘Black Sabbath’ de 1970, remasterizada, com outtakes, B-sides e versões alternativas.

Ontem, ouvia ‘Beggars Banquet’ do Rolling Stones, numa edição especial de seus 50 anos de lançamento, onde percebe-se a presença almiscarada de Mick Jones na sonoridade da banda naquela época.

Sim, existe guerra e fome no mundo e, ao meu redor, muita pobreza e injustiças sociais, mas hoje é dia de hedonismo.

Tente me ensinar das tuas coisas
Que a vida é séria, e a guerra é dura
Mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura

Meu amigo Pedro – Raulzito

As mil facetas de Sidney Lotterby [39]

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Acho que já contei sobre uma noite homérica na garagem dos Graveskovich, onde o Bitchô apareceu com um rack com quase 15 CDs, que era a prensa da época, onde estava entre tantas raridades, o ‘Bad Music for Bad People’, do The Cramps.

Bêbado, insisti algumas vezes naquela noite para repetir o disco na íntegra. Para desespero de todos (menos do Bitchô, que assentia).

O universo do The Cramps era um fandom específico entre nós (amigos do Bitchô), ou você amava ou achava ‘neh’.

Nestes últimos dias, eu tenho ouvido o que Poison e Lux ouviam na costa oeste norte-americana, naqueles devaneios entre a surf music e o proto-punk:

Para quem já leu alguma entrevista dos dois, eles vomitavam vários referenciais musicais e, não raro, eu não conhecia nenhum deles.

Nesta semana, estou na onda dos hot rods e surf music, descobrindo um riff ali e um eco gutural que lembrava os acordes da Poison ou o blow job do Lux.

É muita coisa pra ouvir, mas a coletânea ‘Bo Did It’ (fundo da imagem) supera em escala/volume e em variedade, com mais de 691 (!!!) músicas do tio Bo, com reinterpretações de 5.6.7.8’s, Muddy Waters, Alex Harvey & His Soul Band, Dion, Bob Dylan, Flat Duo Jets, The Trashmen, The Velvet Underground, Elvis Presley e, claro, The Cramps.

Entre tantos, não é de estranhar The Cramps da mesma maneira como a canadense (?) ‘Huevos Rancheros’, mas só indica a extensão do interesse musical da primeira em fazer rock’n’roll.

Com tanta coisa que ouvi nas últimas semanas, pensei no Bitchô, possivelmente organizando as centenas de discos que descobri e formatando-os em CD. Teríamos que ter duas vidas e morar numa cervejaria para comentar todas as músicas.

Lux com Bob Esponja

Mais Valia

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Nem chegamos em Junho, mas jamais trabalhei tanto na minha vida como nestes últimos cinco meses.

A percepção do quanto trabalhei (mais de 4000 linhas no Excel) e do que criei (mais de 1000 páginas PDF, uma parte considerável de CTRL+c e CTRl+v e ChapGpt), não contempla tudo, mas é uma abordagem inicial.

A minhas patologias (STC, artrose facetária, dismetrias, claudicações, …) viraram regra neste período, e percebi que o envelhecimento da carcaça que carrega a minha mente está em alta taxa de deterioração. Vou ter um final de vida muito doloroso.

Mas ao mesmo tempo, vejo que o esgarço do meu corpo é bem compensado financeiramente.

E no final, é o que importa para a maioria das pessoas…

You’re a zombie honey

We done consumed your brain

Can you tell the difference

Or do you feel the same?

by Plasmatics

Catálise educacional

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Na minha experiência educacional sempre tive mais sorte do que azar nas experiências discente-docente.

Uma das coisas mais legais que aprendi (ao longo de 2015) foi sobre Físico-Química, não aquela do segundo grau, nem aquela do ensino superior, mas uma área de conhecimento que embraçava todo o conhecimento químico sobre a matéria e os fenômenos dela decorrente.

Havia um consenso entre os meus colegas que o professor ‘exigia’ demais’, enquanto que eu consentia com um aceno, no fundo sabia que ele estava dando um conhecimento mais abrangente da Química, ampliando o conhecimento além das equações.

Eu sabia que aquelas aulas valiam muito mais do que um crédito acadêmico.

Foi destas aulas que entendi as relações com outras disciplinas que versavam sobre orgânica, analítica, inorgânica e tecnologias. É claro que só tive esta piscadela de conhecimento, pois ainda assim eu era muito lento para avançar academicamente falando.

Fiz a disciplina duas vezes, mas entre uma e outra tentativa, escrevi isto:

—–

Prezado professor,

É evidente que minha nota refletiu o quanto estudei para a avaliação. Lamento a decepção mas tive problemas imperativos… Mas não quero falar sobre meu pífio desempenho acadêmico, e sim em dizer-lhe que sua didática é muito boa… Em suas aulas vejo entusiasmo e conhecimento pleno sobre o assunto…e isto é algo que valorizo e respeito…

Vejo hoje a físico-química com os olhos de um garoto que ganhou um brinquedo novo graças a suas aulas… ainda não sei o que brincar mas o interesse, a motivação, ficou…

Não releve o seu padrão de aula por nós … posso dizer por mim que tenho enormes carências em conhecimentos fundamentais, e arriscaria em dizer que parte da turma possui carências similares… assim o problema é mais sistêmico do que a disciplina que o sr. ministra… Agradeço a chance, mas faça sair um pouco mais de suor… 😈

Uma curiosidade, momentos antes da prova, estava na biblioteca e resolvi abrir o livro do Ball e achei muito irônico, e ainda mais engraçado, ver algumas questões e exercícios no livro… c’est la vie …

Obrigado pelo conhecimento e pela diversão…

Respeitosamente,
—–

O ‘livro do Ball’ mencionado trata-se do ‘Physical Chemistry”, de autoria de David W. Ball, ed. Cengage Learning, um dos livros mais práticos (do que li até o momento) da Físico-Química para a área da Engenharia Ambiental. E a mensagem acima, até onde sei, ficou na pasta dos rascunhos.

No semestre seguinte, minha empolgação com a Físico-Química continuava, e ainda trocava mensagens com este professor:

—–

Boa noite professor

Uma notícia :

Pesquisadores da UFABC acreditam ter flagrado um comportamento singular das moléculas de H2O quando submetidas a uma situação extrema: duas densidades distintas. As amostras foram analisadas por meio das técnicas de espectroscopia Raman e difração de raios X. http://bit.ly/h2oLq

—–

O link acima está corrompido, e como não me lembro mais da diferença de espectroscopia Raman com a difração de raios X, não importa mais.

Minha empolgação com Físico-Química aumentava quando o que eu aprendi em sala de aula significava utilizar na vida prática. Até mesmo ler livros ficou mais saboroso com as novas portas de percepção:

—–

Prezado Professor,

Acabei de ler o livro “Perdido em Marte” (atualmente em cartaz nos cinemas) e o livro é repleto de Ciência. Mas a parte mais interessante, e o motivo desta mensagem, é que nunca li tanta Físico-Química em um único livro (e olha que sou um fã de Asimov)… aqui vai um excerto do livro:

“Em vez de kits normais de refeições, a maior parte da comida eram cubos de proteína, que permaneceriam comestíveis mesmo que a sonda não conseguisse abrir os balões de proteção e sofresse um impacto em alta velocidade.

Como a Iris era uma missão não tripulada, não havia limite de aceleração. Os conteúdos da sonda suportavam forças às quais nenhum ser humano conseguiria sobreviver. Mas, embora tivesse testado os efeitos de forças gravitacionais extremas sobre cubos de proteína, a Nasa não tinha feito esses testes com uma vibração lateral simultânea. Se tivessem tido mais tempo, teriam realizados os testes.

A oscilação inócua, causada por um pequeno desequilíbrio na mistura de combustível, sacudiu a carga. A Iris, montada solidamente dentro de um aeroescudo em cima do propulsor, manteve-se firme. O mesmo não aconteceu com os cubos de proteína dentro dela.

Em nível microscópico, os cubos eram partículas sólidas de alimento suspensas em espesso óleo vegetal. As partículas de alimento forma comprimidas a menos de metade do seu tamanho original, mas o óleo quase não foi afetado. Isso mudou drasticamente o coeficiente volumétrico sólido/líquido, o que, por sua vez, fez com que a mistura agisse como um líquido. Conhecido como “liquefação”, esse processo transformou os cubos de proteína, até então sólidos estáveis, em uma gosma viscosa.“

Perdido em Marte; Andy Weir; São Paulo; Editora Arqueiro; 2014; 1ª edição, Pag. 173

Graças ao curso de tecnólogo e à suas aulas de Físico-Química, eu pude aproveitar e acompanhar toda as peripécias da personagem e suas invencionices científicas.

Obrigado…

Respeitosamente,

—–

Minhas motivações são fugazes, mas tenho um livro do Atkins a partir destas interações e ficou uma vontade muito grande estudar numa graduação de Química. Talvez nunca faça, mas a vontade não diminuiu desde então.

Aproveito esta reminiscência, e rememorando que um dos fundadores da Físico-Química, Friedrich Wilhelm Ostwald, além de revolucionar a Ciência com diversos avanços tecnológicos (e ganhar um Nobel de Química), foi um amante do conhecimento pleno, dedicando-se entusiasticamente à arte (pintura, principalmente) e aos assuntos e costumes de sua época.

Este professor transmitiu o espírito de Ostwald para aquele pequeno paspalho aculturado…

Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que caminha para a morte pensando em vencer na vida
Era feito aquela gente honesta, boa e comovida
Que tem no fim da tarde a sensação
Da missão cumprida
Acreditava em Deus
E em outras coisas invisíveis
Dizia sempre sim aos seus senhores infalíveis
Pois é, tendo dinheiro não há coisas impossíveis

Pequeno Perfil de Um Cidadão Comum – Belchior

Regauge

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Estava no trânsito ontem, fazendo algumas tarefas de meu serviço. Parei num semáforo, e na esquina, protegidos pelo pórtico de uma agência bancária e pelo sol que aquecia naquela manhã fria, vi uma mulher e uma criança.

Naquela esquina bastante movimentada, a primeira não parecia uma adulta, mas olhos cansados de viver atrapalham. Parecia jovem demais para ter filho, mas não importava o laço sanguíneo, ali estava uma tragédia em desenvolvimento.

De supetão, um veículo bloqueou a minha visão dos dois, parando ao lado do meu automóvel, no aguardo do sinal verde. Aquele bólido valia mais de R$ 400.000,00, enquando 5 metros dele, pessoas mascasteavam a vida.

Mantendo isto na memória, escrevo aqui e acolá que fui um sortudo na loteria da vida, pois pude fazer e aprender coisas que pobre não deveria aprender. Tive acesso a tantas coisas, que precisaria de dezenas de vidas para aproveitar tudo.

Ainda assim, ver pessoas passando fome, é algo devastador. Não importa o quanto tive boa estrela me seguindo, há milhões que não tiveram a mesma fortuna.

É um banho de água fria para mim, é algo como ‘não adianta nada falar bonito e parecer espertinho, se tem gente morrendo do teu lado’.

Da mesma forma que a letra do AC/DC diz, a maioria de todos nós estamos num limbo:

Dog eat dog
Read the news
Someone win
Someone lose
Up’s above and down’s below
And limbo’s in between
Up, you win
Down, you lose
It’s anybody’s game

Dog Eat Dog, AC/DC

O culpado é o cachorro

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Como já relatei, a estória teve andamentos desde então.

Consultamos um advogado e, sem imagens e testemunhas, nada avançaria.

Possivelmente, imagens tinha, já que a edificação ao lado onde o meu carro foi vandalizado é uma unidade de gestão de patrimônio do poder judiciário do estado. Mas, quando fomos procurar quanto a possibilidade de obter as imagens, nenhum servidor se dignou a nos recepcionar pessoalmente, e fomos dispensados na portaria do prédio, dizendo que no local as câmaras não funcionavam. Simples assim. Como servidor público, entendo que se envolver é temerário, ainda mais com assuntos externos, e se envolver sem a ciência da chefia, é caixão.

Com esta realidade, tínhamos que encontrar o nosso ‘amigo’ regularmente passeando na rua que fica o escritório da minha esposa. Nestes momentos, eu acenava dizendo ‘bom dia’ ou buzinava (quando estava mais longe), e eu podia ouvir um sonoro ‘vtnc’. Nestes quatro anos, nossas interações foram estas. Até o dia 08/02/2023, quando o encontramos no início da manhã e fizemos o nosso, já consolidado, ritual.

Para nossa surpresa, ele voltou de sua direção e foi em direção onde estacionamos o veículo. O espetáculo de palavrões, já descrito anteriormente, não era uma novidade, mas sim a expressão:

‘O que você quer com esta provocação?’

Não era provocação, quando ele vandalizou o meu veículo, ele criou um vínculo comigo, não fraternal, não empregatício, mas de agressor-vítima. Os acenos e cumprimentos eram ofensivos para ele, enquanto que eu queria significar ‘eu sei o que você fez com o meu carro’.

Durante os palavrões, ele inovou com homofobia, já que agressões verbais simplistas não eram suficientes, ele começo com alcunhas que inferiam a mim comportamento homossexual. Eu ri e respondi:

‘Você quer me comer?’

Entre os ataques, repliquei, ‘você riscou o meu carro’!

Vendo que os funcionários (terceirizados) do poder judiciário estavam assistindo a nossa ‘discussão’ no meio da rua, ele virou para eles, como seu fosse uma platéia de juristas, e disse:

‘Eu não fiz nada, foi o meu cachorro que esbarrou no carro dele.’

Falou isto com uma naturalidade surpreendente.

Deixei minha esposa discutindo com ele a minha orientação sexual, quando ela respondia pra ele ‘um viado sabe identificar outro’. No caminho, fiquei pensando sobre tudo o que aconteceu, sobre o surto e a origem do surto a partir do dia em que ele riscou o carro, e percebi que este senhor na verdade apresenta um quadro psiquiátrico estabelecido e a mentira em apontar o cachorro como o causador do dano ao veículo. Mentir desta forma, de forma deslavada no dito popular, pode ser um sinal comportamental bem característico.

De qualquer forma, como ele fez novas ameaças, procuramos uma delegacia para orientação. Como não ocorreu agressão (além da desinteligência verbal), como não há ameaça que possa ser tipificada penalmente (ameaça a propriedade não permitia uma qualificação adequada) e, não sabíamos nem mesmo o nome do cidadão, a escrivã indicou que pouco ou nada poderia ser feito, orientando que se nova agressão ocorrer, aí no contexto de vandalizar novamente o veículo, que eu chame a polícia militar para a qualificação no ato. Mas, aí, se não tiver imagens ou testemunhas, será o dito pelo não dito, com os dispêndios jurídicos envolvidos.

O cachorro, aparentemente, passa bem.

Sophisticated Suspense

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Já escrevi algumas vezes aqui sobre esta HQ, mas relendo ‘Swamp Thing’, no ideário de Alan Moore, em inglês, percebi algumas coisas:

■ preciso aprender muito a língua inglesa para absorver o máximo da narratologia ‘Mooreana’;

■ e a cada (re)leitura é uma (re)ferência nova…

Hoje, por exemplo, percebi a referência bíblica para a expressão ‘am I your keeper?’.

Swamp Thing, Fevereiro de 1985

Aliás, a capa desta edição é uma homenagem a edição de House of Secrets nº 92 de 1971, mas isto é outra historieta e está muito bem contada na internet…

Lembro-me que quando li, analfabeto funcional, não entendi nada dos arcos de história que a falange Moore-Bissette-Totleben tentava nos perverter. Reli algumas vezes desde aquela época (já vão se passar quase 40 anos!!!), e tentando ler em inglês parece ser um tipo de obra que envelheceu pouco, mantendo sua relevância. Com a série Sandman na Netflix, pode ser que um interesse tangencial reapareça já que alguns personagens tangenciais são comuns. Insh’allah…

Nas releituras com Swamp Thing, meu interesse pelas mitologias esotéricas e do sobrenatural renasceu, percebi que para contar uma história de terror não é necessário somente corpos jovens na plenitude sexual dilacerados de forma selvagem, e que um terror psicológico, uma violência (sexual ou física) quase diáfana, é muito mais tenebroso que slasher movies. Também ressurgiu, um interesse nas leituras pulp fiction deste mesmo segmento, ainda que as editoras estivessem, na época, abandonando as boas histórias para a pornografia light. Fiquei muito tempo desperdiçando lendo somente sobre ciências (sem método e objetivos) e ignorando todo o imaginário que a fantasia se propõe a criar. Eu tive acesso, mas não soube aproveitar as oportunidades literárias.

Neste processo de autoavaliação, percebi-me como preconceituoso com algumas linhas literárias, restrito ao consagrado, célebre, ao mainstream, ao científico, ao ‘pé no chão’. A forma como não desenvolvi um método, uma trilha de leitura, é de se lamentar pelo esforço despendido e pelo resultado (ainda um analfabeto funcional, um pouco mais letrado, mas funcionalmente analfabeto).

Foi uma pena tudo isso… eu poderia ter aproveitado melhor as leituras…

C’est la vie…

Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

Macário, o mais lúcido de todos os meus amigos

As mil facetas de Sidney Lotterby [38]

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Esta semana foi de lembrar do Bitchô por dois motivos; o primeiro, pela proximidade dos feriados cristãos, algo que os ateístas adoram.

O Newtal era uma festa regrada às jornadas ébrias, onde passar 12 a 18 h bebendo direto, e no dia seguinte (ainda feriado) cada de um de nós passava o dia ignorando mutuamente a existência terrena e tentando criar coragem pra curar a ressaca com a primeira cerveja do dia.

Por mais de vinte anos passamos alguns feriados religiosos tão bêbados, que agradecíamos aos seguidores do deus antropormófico judaico-cristão por ter inventado tantos motivos religiosos pra não trabalhar.

Outro, pela morte de Terry Hall. Rocksteady e Ska não faziam muito as preferências dele (ainda que tenham influenciado pra caray The Clash), mas não tenho nenhuma dúvida que as letras das músicas lhe agradariam, pelo tom de crítica social e cinismo perante os costumes (dos ingleses, no caso). Um exemplo, é a letra “Too much, Too young”:

You’ve done too much
Much too young
Now you’re married with a kid
When you could be having fun with me
Oh no, no gimme no more pickni

You’ve done too much
Much too young
Now you’re married with a son
When you should be having fun with me
We don’t want, we don’t want
We don’t want no more pickni
Ain’t he cute?
No he ain’t
He’s just another burden
On the welfare state

You’ve done too much
Much too young
Now you’re married with a kid
When you could be having fun with me
No gimme, no gimme, no gimme no more pickni

Call me immature
Call me a poser
I’d love to spread manure in your bed of roses
Don’t want to be rich
Don’t want to be famous
But I’d really hate to have the same name as you
(you silly moo)

You’ve done too much
Much too young
Now you’re married with a kid
When you could be having fun with me
Gi we de birth control, we no want no pickni

You’ve done too much
Much too young
Now you’re chained to the cooker
Making currant buns for tea
Oh no, no gimme no more pickni

Pickni: gíria para crianças, no contexto e numa tradução canhestra, eu ressignificaria como ‘piás’, ‘guris’, ‘moleques’,…

Rudy é uma gíria para adolescentes ‘rebeldes’ entre meados de ’60 e início de ’70 na cena urbana inglesa, e que ficou associado (segundo o que li) a aficcionados do Ska ou de quem se vestia como eles.

Ciao Terry Hall…

Senilia

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No último ano tenho vislumbrado mudanças radicais no meu corpo. O ato de envelhecer e sentir a velhice neste processo é um momento, no mínimo, cativante.

Como um ateísta, envelhecer é ir em direção a morte diariamente. Mas o meu interesse humanista é arrebatado por tantas alterações fisiológicas, muitas delas por uma bioquímica tácita, lenta e dissimulada. É muita coisa para aprender, e pouco tempo… agora eu começo a perceber o nível de incompreensão sobre esta etapa (final) do corpo de um homo sapiens.

E não é só pela proximidade da finitude, mas sim uma total ignorância de como estes fenômenos se desenrolam.

Esta percepção tornou mais aguda a minha leitura dos meios comuns (tv, impressos, internet,…), e de como não há canais que permitam as pessoas de cabeça branca dominarem o que acomete seus organismos. Em geral, são truísmos como exercícios e alimentação saudável, e baboseiras para gastarem suas economias de aposentadoria.

As variações psicológicas/psiquiátricas também são sensíveis neste momento, o que torna tudo mais interessante e complexo.

Por outro lado, a decrepitude orgânica é um enorme dissabor.

“Casar significa fazer todo o possível para irritar um ao outro.”
do titio Schopenhauer

Ping Pong Pang

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Nos últimos dias, estou encarando ‘Turandot’, de Puccini.

Os três personagens que dão nome a este post, geram multicamadas de vozes, arranjos e melodias para a ópera, o que para um analfabeto musical é muito intrigante.

Não consigo passar do segundo ato, pois sempre volto para entender a letra e a narrativa da estória, e quando eles entram, há uma dinâmica diferente entre os recitativos e os cantabiles, percebe-se um esmero na métrica rítmica sem alterar significativamente a melodia. Até aqui na minha ignorância, achei impressionante pois requer um domínio amplo da língua utilizada (italiano) e dos recursos instrumentais.

A paixão arrebatadora do príncipe desconhecido transborda em sentimentos musicais muitos intensos… imaginem quando chegar perto de ‘Nessun Dorma’…

Qual sua cor?
Qual sua religião?
Qual a sua ideologia?
Qual a sua nação?
Qual seu nome?
De onde você vem?
Sua classe social?
Quanto dinheiro tem?
Será que isso importa?
Eu quero uma resposta!
Enquanto isso
Neonazis de armas na mão
Espancam e humilham
Um pobre cidadão

‘Intolerância’ – Inocentes

Estórias da caserna [12]

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Uma carta demissionária de dantes …

Senhor Secretário,
Senhora Superintendente,

Conforme já conversamos, solicito a autorização da formalização de minha exoneração da função gratificada xx que exerço no momento. Como facilitador de controle, tanto para mim quanto para o período de folha de pagamento, peço que a exoneração seja a partir do dia xx, fechando o período laboral de novembro.

Coloco como sugestão a indicação, mesmo que provisória, desta chefia para a servidora xx, que demonstrou além do comprometimento e da dedicação perante os objetivos da xx, um alto nível de relações interpessoais que permitiu um ambiente de companheirismo alegre e saudável. É uma servidora pública de destaque e que merece ser reconhecida pelo que já demonstrou até o momento.

Solicito a liberação de minhas obrigações a partir do dia xx para o meu comparecimento na secretaria de minha lotação de origem. Estarei à disposição a qualquer momento e em qualquer situação para auxiliar a pessoa que irá assumir minhas funções.

Quero expressar a minha gratidão pelas oportunidades que tive, principalmente nos ensejos de aprendizagem e capacitação técnica, tão precárias na época em que iniciei minhas atividades aqui na xx, mas que hoje penso ter melhorado um pouco como servidor público e, principalmente, como ser humano.

A minha gratidão vai além das oportunidades profissionais, onde encontrei ocasiões de novas amizades, aumentando substancialmente o meu círculo de relações interpessoais. E isto é de um valor incomensurável para mim, guardando o que aprendi aqui como um bem raro e valioso.

Meus votos que a xx em xx tenha pleno êxito e sucesso nesta empreitada árdua que é a xx.

Orquestração musical e política

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Um músico é uma pessoa que pode gerar música através de uma combinação de sons de múltiplas formas (melódicas), harmonias e elementos (visuais, percussão, vibração, emocionais, …). Os primeiros artefatos musicais registrados na paleontologia apresentam um paralelo entre o desenvolvimento da nossa caixa cerebral e a proto-música arqueológica, deixando claro que os caçadores-coletores que foram nossos antepassados precisavam de música, senão na percepção individual da arte, mas como um trato social, um fator de coesão.

Neste momento político, há uma guerra de costumes musicais, evidenciada pela penetração da internet no interior do país e nas famílias que não tinham acesso a ela, e onde um lado deste conflito é a percepção de grupos de minoria que antes estavam nas bolhas dos grandes centros urbanos. Mas a internet que chega, muitas localidades em 3G e instável, é pela via das plataformas de redes sociais, com o filtro de seus algorimos. A pauta dos costumes se viu em desbalanço quando confrontado com iniciativas progressistas demais (no sentido do libertarianismo) para a cultura eurocentrista e ancap que é a regra da sociedade brasileira do interior do país.

Lembro disso quando, no mês passado, passeando na minha região (rural, mas com alta taxa de urbanização) vi um garoto, na faixa de seus 15 anos, cabeludo com a camiseta do Cannibal Corpse. É provável que seja um visitante, mas se for um filho de um dos meus vizinhos, suponho um ar de estranheza … Se fosse só com Gore Metal até nem estranharíamos tanto, mas a demonização/excretação do funk brasileiro/carioca, que possui um viés tão abertamente racial, e que aos longos dos anos 80 e 90 era facilmente associado ao narcotráfico ou a escatologia sexual, quando a mídia abordava/noticiava com parcialidade que retroalimentava a perspectiva preconceituosa, ignorando uma legião de músicos e cantores que produziam conteúdo que era consumido em favelas. Os nomes nacionais que atualmente são consumidos em outros países através dos canais de streaming, muitos oriundos destas favelas, irrita os “vigilantes da tradição” pois outros gêneros (!) musicais não alcançam estes patamares apesar do jabaculê.

E aí a história entorna feio… os “vigilantes da tradição” agora impõem que algumas orquestras brasileiras executem somente músicas do segmento do jabá

… deixe-me explicar um pouquito a minha perspectiva …

Num lance mais histórico, o nacionalismo na música brasileira teve um evento luminar na criatividade de Villa Lobos e de todo aquele movimento da Semana de Arte Moderna; e a MPB não foi a mesma desde então. Utilizei o exemplo de Villa Lobos mas diversos outros poderiam ser elencados, mas este exemplar se relaciona ao preâmbulo da movimentação do jabá. Antes e depois, movimentos de ‘resgate’ das “raízes” criaram motivações comerciais e criações artísticas interessantes, mas algo mudou do antigamente para agora, a criança de hoje consegue sintetizar um piano junto com um pandeiro em um equipamento eletrônico ou software, sem a necessidade de educação musical, nenhuma erudição envolvida, muitas vezes apenas o instinto musical. Eu acho que há algo muito interessante neste universo, já que há muito conteúdo de qualidade sendo produzido mundo afora, e com exceção dos agraciados pelo streaming, ficarão na obscuridade de forma involuntária esperando uma ‘oportunidade’. Um oceano de desconhecidos que estão produzindo um universo de músicas …

Aqui entra a tendência de banalização da classe elitista. Percebendo que letras monocromáticas e melodias abrolhadas não fazem o verão, utilizam de seu poder e influência para que orquestras sinfônicas, essencialmente mantidas por recursos públicos (ou de renúncia fiscal), estão sendo coagidas a inserir em sua playlist somente exemplos do cancioneiro popular. A palavra ‘somente’ no parágrafo anterior indica uma movimentação perigosa para a cultura, já que é uma forma de hegemonia cultural em detrimento da pluralidade de conhecimentos. Em outras palavras, acho legal que a OSESP toque o repertório de Cascatinha e Inhana, mas acho perigoso demais obliterar Bach. Adota-se os “novos ventos” ou, para aqueles que não flexionam, são convidados a ouvir o Concerto de Brandeburgo em casa.

Sei que a música clássica européia é um disparate para aquele candango que só ouviu música sertaneja, e também por não fazer parte de sua experiência cultural. Música, antes de tudo, é um significado social. Mas restringí-la por discricionaridade é um desacerto despropositado…

Mas voltando a falar de Bach, ainda bem que existem outras formas de inserir a música na vida das pessoas, como no episódio 10 do anime “Spy x Family” que toca como fundo musical o Concerto para dois violinos em ré menor (BWV 1043). Guitarras nervosas, metálicas, coadjuvam no anime “ChainSaw Man” desde o primeiro episódio. E sinto um certo alívio em saber que os adolescentes de hoje assistem mais anime do que os meios do jabá. Eu mesmo tento sair da ‘bolha’ em que estou inserido e ouvir coisas diferentes, como faço pelo aplicativo “Radio Garden” por exemplo, e me surpreendo com o inusitado no meu processo de alfabetização.

Sem música, a vida seria um erro.

Aforisma 33 do livro ‘Crepúsculo dos Ídolos” de Friedrich Nietzsche

The Killer

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Jerry Lee Lewis e Jerry Lewis eram uma confusão na minha infância, sempre confundindo o músico e o humorista. Lembrei disso, após saber do passamento do primeiro.

As filmagens dos anos 50 demonstram a fúria de rock que Jerry Lee Lewis se tornava ao piano, cantando com um sotaque sulista de forma frenética.

Há um disco dele que nunca ouvi nenhuma música e que nunca vi em nenhum lugar, nem na Bitchô Records: Class ’55. Neste registro musical, ele associa-se a Carl Perkins, Roy Orbison e Johnny Cash, numa busca para encontrar aquela alma rockabilly.

Outro disco famoso, é o Quarteto de Um Milhão de Dólares, em que Roy é substituído por um tal de Elvis Presley, brincalhões cantam e riem, momentos que deveriam ter sido filmado.

Tem uma história de prisão em Graceland, na tentativa de atirar no próprio Elvis, entre tantas bizarrices de sua vida, mas que são hoje a narrativa mitólogica de um dos maiores nomes do rock’n’roll do século XX.

C’mon girl you got my heart a really jamming
Go ahead and keep my mother humping motor running
Lets go why don’t you put it on the floor
Woman you really got me humming keep my motor running

Keep my motor running, by The Killer

As mil facetas de Sidney Lotterby [37]

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Numa das noites de taverna que passávamos juntos, em 2013, perguntei para o Bitchô de onde ele tirava aquelas ‘raridades’, de como era possível saber que aquele material (música ou vídeo) estava gravado e, principalmente, disponibilizado.

Ele respondeu de várias fontes, mas os ‘bootlegs’ mais inusitados eram do site:

http://theultimatebootlegexperience7.blogspot.com/

Nunca entrei em contato com o dono da URL para baixar algum arquivo, muito menos agora pela falta de espaço. Entretanto, lá você encontra Nine Inch Nails cantando junto com David Bowie, e mesmo que você não conheça estes dois, vai se arrepender de não ouvir.

Existe uma ideologia cultural muito arraigada na internet que faz da pirataria não um modo de sobreviver, mas de altruísmo.

Se você acha que tem pouca sorte
Se lhe preocupa a doença ou a morte
Se você sente receio do inferno
Do fogo eterno, de Deus, do mal
Eu sou estrela no abismo do espaço
O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço
Onde eu tô não há bicho papão não, não
Eu vou sempre avante no nada infinito

Eu sou Egoísta – Raul Seixas

Tudo que acontece é para melhor

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Hoje comecei o dia com um vídeo do TED que me levou a pesquisar sobre a iniciativa econômica chinesa (BRI), e que depois me levou a um artigo que citava o livro “The Entropy Law and the. Economic Process” de Nicholas Georgescu-Roegen (que é muito importante em Economia mas que não achei pra piratear) e que resultou no download do livro “Ecological economics : principles and applications” de Herman E. Daly e Joshua Farley (que possivelmente nunca lerei por inteiro).

Ouvindo uma banda quebequense que canta Death Metal (?) em francês (?), escolhida a partir de uma coletânea hardcore (com algumas palosidades entre o brega e o sublime, thanx @timewastinghighway!!!), lembrei das sábias palavras do Dr. Pangloss (outro que só falava francês):

“Si c’est ici le meilleur des mondes possibles, que sont donc les autres ?”

Enquanto isso, um monte de exercícios da escolinha, que eu tenho que entregar até amanhã, são cerimoniosamente ignorados.

Vou me formar quando desse jeito… ?

And anyway I be thinkin’ to meet you at the station
Guilty ‘cause I should be home, damn procrastination
So when they ask me later, I won’t tell them how it’s going
But now my head is empty and the work load keeps on growing

Procrastination – Amy Winehouse

As mil facetas de Sidney Lotterby [36]

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Faltou um adendo na última historieta: ganhei a fita do Bitchô em 99. Numa épóca do CD, só que este último era extremamente caro para a nossa realidade.

Comprar isopropanol para limpar os cabeçotes do K7 também não era barato e facilmente disponível.

Ainda naquele período, comprar a própria fita K7 a depender do acabamento de camada magnética (“ferro”, “cromo”, …) era proibitivo.

Comprar uma K7 pirata em uma loja era um preço absurdo a depender da banda (era mais barato comprar do Modern Talking do que do The Sex Pistols).

E era na mesma época que rolava os formatos VideoLaser (laserdisc, vcd/MPEG-1, svcd, …) antes da hegemonia do DVD.

Imaginem, olhávamos tudo aquilo que chegava nas lojas dos ricaços e nós ainda no K7 ‘ferricromo’.

Era (e ainda é) bom ser pobre, pois percebíamos que o que nos era privado era algo de muito mais impacto e, a importância de um maço de dinheiro <sobrando> no bolso, significava uma posição entre consumir o que todos consomem ou comprar aquele vinil do Anthrax com o salário mínimo.

‘Quero ser pobre um dia, pois de ser miserável já cansei’, dizia o B.I.T.C.H.ô regularmente para as conversas sobre nossas realidades domésticas. Nossas realidades e feitos eram ditadas pelo nosso mais-valia, com a vantagem de que o meu era mais resfolegado.

Mas bastava algo para beber, algo para ler, algo para ouvir e, principalmente, alguém para conversar.

Existia aí um minimalismo consumista tanto conscioso quanto impremeditado, tornando todas as vicissitudes culturais um pequeno incômodo.

Algumas das músicas acima ainda não “encontrei” o disco ainda… mas vamos ouvindo, um dia eu topo com elas.

A Voz De deus

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Acho que no box “The Soul of Rock and Roll”, havia uma frase do Maurice Gibbs que relatava sua impressão quando ouviu pela primeira vez Roy Orbison: “parecia que ouvia a voz de deuz”.

Hoje estou ouvindo o divino acompanhado da Royal Phillarmonic Orchestra, com novos arranjos das velhas músicas.

Way down upon the Belém River,
Far, far away
That’s where my heart is yearning ever,
Home where the old folks stay

Cry for a shadow – The Beatles+1

As mil facetas de Sidney Lotterby [35]

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No meu aparelho de som, velho e sem uso, tem uma fita K7. Na sua lombada está escrito “Fuck’n Blues”.

Ali tinha algumas versões selvagens de Leadbelly e Muddy Waters dignificadas por vozes de Elvis e tio Bob, por exemplo. O Bitchô já me contou a história desta fita, mas ela se perdeu na neurodegeneração cerebral por uso pesado de bebidas alcoólicas.

Lembrei desta fita por estar ouvindo algumas versões ‘originais’ por assim dizer:

Esta seleção da semana, finalizou na novidade de “Lousiana Fog” de Charlie Musselwhite (ainda vivo!!), uma surpresa notória por assim dizer, visto que gravou muita coisa legal com alguns gigantes da música e, aparentemente, serviu de influência para o carismático Elwood Blues do filme ‘Os irmãos cara-de-pau’ de 1980. Acho que o Bitchô também tinha contado a estória do Charlie, mas eu devia ter bebido demais neste dia.

Yeah, I gotta gal lives way downtown
She don’t stand no foolin’ around
Baby told me we could make it somehow
There ain’t no time like there is right now

Takin’ care of business, by Mr. Musselwhite

Deejaying

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Estou aprendendo a ouvir hip-hop da mesma maneira que estou assimilando música clássica, pulando de referências e sugestões de acordo com o que vou ouvindo.

Não tem como ficar isento deste estilo de arte já que Ed Piskor desenhou Grandmaster Flash, Anthrax gravou com Public Enemy, Ice Cube fez filmes Rated G, Ice T fez um reality show, George Clinton produziu RHCP, Dr. Dre não mora mais em nenhum Compton, todos eles trouxeram na bagagem figurões como James Brown e a pura poesia black-power dos guetos do preconceito.

Por causa disso, mas não somente por isso, Racionais MC’s fizeram um dos melhores discos de música em 1997.

Numa semana que passei ouvindo direto os shows do HellFest 2022, é muito bom lembrar dos Beasties Boys, neste show que vai da eletricidade punk a desatinos a la Kraftwerk:

Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio!
O ser humano é descartável no Brasil
Como modess usado ou Bombril
Cadeia? Claro que o sistema não quis
Esconde o que a novela não diz

Diário de um detento – Racionais MC’s

Impulsividades

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Sou muito impulsivo, mas tanto, que há momentos que suspeito que sofro de algum nível de distúrbio TDAH numa escala geriátrica.

Num domingo qualquer, no aniversário de um amigo meu, estava divagando dentro de uma livraria na procura de um presente válido. Válido no sentido de presentear alguém que lê muito e que já leu muito; e lá estava, zanzando como uma mosca morta, sem ideias de presente.

Aí vi um livro de um autor que acompanho, que já li alguns artigos aqui e acolá, e até fiz downloads de seus livros (que não li ainda), mas que nunca tinha adquirido um livro físico.

Na dúvida excruciante, comprei duas unidades do livro. Uma para presente e outra para mim, imaginando que eu iria presentear, informar que não tinha lido ainda, mas que pelos artigos que li tinha tido uma boa impressão, e que iria ler ao mesmo tempo que o meu amigo para compararmos num momento futuro as nossas impressões.

Antes deste evento, estive em viagem recentemente e, dormindo na casa dos meus sobrinhos não tinha nenhum livro comigo ou o kindle para ‘ninar’, já que eu tenho um transtorno que me acomete em dias esparsos onde tenho que ler alguma coisa antes de dormir, fazendo com que neste dia o meu sobrinho emprestasse-me um livro de auto-ajuda na área de vendas com a promessa de que fizesse um comentário do que eu achava da leitura.

Passado um mês desde o empréstimo, este sobrinho ignorando o alto estado etílico de minhas funções neurobiológicas, perguntou-me a opinião do livro. Num breve discurso de uma hora sobre três capítulos, acabei mencionando o livro que tinha recém-adquirido e acabei presenteando-lhe com o livro com a promessa de que no nosso próximo reencontro, beberíamos e discutiriámos as nossas leituras.

E lá estava eu, comprei dois livros e presenteie-os com a futura promessa de um sarau literário com dois amigos, mas eu não tinha o livro e nem lido ele por inteiro.

Aí fui lá comprá-lo novamente, e num rompante, enfiei o pé-na-jaca, comprando mais dois títulos além do primeiro:

Before you go taking a walk in my world
You better take a look at the real world
Cause this ain’t no Mister Roger’s Neighborhood

“You can’t bring me down” Suicidal Tendencies

Uíste

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Por menos de duas latas de cerveja de milho, achei o livro “A Morte de Ivan Ilitch” de Liev Tolstói, e comprei-o num site, este livro que muito me impressionou através de um excerto dele na coleção “Biologia Social” de Bruce Wallace. Na verdade, a divisão destes três livros de Wallace, prefaciando obras de literatura antes de seus ensaios, estabelecendo uma ponte entre uma obra clássica e eventos naturais, é uma das coisas mais legais que li em biologia. Muitos livros foram comprados por causa de Wallace…

Pois bem, quando chegou a saga de Ilitch pelos correios, fiquei decepcionado, pela pequena quantidade de folhas. Mas quando iniciei a leitura, achei irônico que tanta coisa da Rússia do século XIX ainda existe nos usos e costumes de meu tempo.

De tão bom que é, agora estou com dó de finalizar a leitura do livro.

Acho que todo servidor público deveria ler este livro…

Help me scrape the mucus off my brain

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Estou ouvindo “Easy Listening for Jerks Pt. 1 and Pt. 2”, da banda ‘The Dead South’. Conhecia a banda por um clip impulsionado ao nível do vômito nas rede sociais, mas este album de covers é muito interessante, além da capa da Parte 2 que faz uma alusão direta ao album ‘…and out come the wolves’ que a banda Rancid lançou em ´95.

Além desse, hoje descobrindo os discos:

John Mellencamp – Strictly A One-Eyed Jack

Rammstein – Zeit

Nazareth – Surviving the Law

Tears For Fears – The Tipping Point (2022)

I always lie to strangers
I am a man of low degree
This world is run by men
Much more crooked than me
And as far as I can see
I don’t trust you
And you shouldn’t trust me
I always lie to strangers
Because I always lie to strangers

‘I always lie to strangers’, by John Mellencamp

Estórias da caserna [11]

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Onde eu trabalho, há um espaço em que a edificação permite uma proteção contra intempéries, num espaço contíguo à calçada externa; e a presença de moradores de rua sempre foi uma constante naquele local por décadas (trabalho no local há quase trinta anos).

Há alguns anos, numa decisão covarde e cruel da Alta Direção de onde eu trabalho, decidiram intervir no local, colocando vegetação “anti-morador-de-rua”, possivelmente uma planta parente da agavaceae ou asparagaceae, mas com folhas inflexíveis e acuminadas, diabolicamente escolhidas para coibir a presença do ‘vizinho’.

Água mole em pedra dura… passado um tempo, a herança da insistência dos primatas nas savanas africanas sobrepujou a ‘mata’ celerada do Alto São Francisco, e percebi que não importa o quanto tentam expulsar os pobres e os desprivilegiados da vista dos privilegiados, a maré de ondas de realidade é interminável.

Ontem, tive uma breve leitura desta realidade em dois momentos, nem ditosos, nem reprováveis…

Chegando a pé ao escritório, passando pelo ‘vizinho’, vi que ele adesivou folhas de caderno de brochura na parede da edificação. Era uma manhã curitibana, 9° C de mínima, e ele dormia sobre o saco de dormir, o que me permitiu diminuir o andamento dos passos e ler um das folhas, que tinha a maior fonte:

“Obrigado pelas meias.”

Eu já tinha visto o ‘vizinho’ lendo alguns livros, e ficava imaginando uma cultura literária das ruas e saraus de leitura marginal. Ver a sua manifestação de escritor, de forma tão cândida, agradecendo uma doação de uma meia para ele (presumidamente anônima), que interpretei como uma relação de desconhecidos, alguém que viu a frente fria com temperaturas congelantes como a oportunidade de doar uma peça de vestuário, e alguém que achou uma folha de papel para agradecer a doação ao amigo secreto.

No horário de almoço, no mesmo dia, tive que ir para a minha residência de carro. Na volta acionei o pendrive para ouvir música, numa seleção que ia de RxDXPx a Mozart. Neste dia, resolvi pela Flauta Mágica de Mozart, e durante a primeira cena (Zu Hilfe!), passei na frente da paróquia da minha região, e vi uma grande fila, imensa maioria de mulheres e crianças, com sacolas ou outras opções para carregar as doações que seriam distribuídas naquele dia. Lá dentro do carro, um sentimento de consternação indefinível me afligiu, olhando para o meu privilégio de ouvir Mozart (ou RxDxPx) enquanto as pessoas ao meu redor subsistem.

Unsightly slums gone up in flashing light

Dead Kennedys – Kill the Poor

Apple do pecado…

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Assinei hoje o streaming da Apple+..

… como diriam alguns, sucumbi…

… mas o meu motivo principal de entrar nesta bolha não foi o primeiro vídeo do Velvet Underground…

… e, caray, what a mess.

E tenho a percepção de que do que é ‘classificado’ (selected, na linguagem modern) não é mais importante de mais ninguém.

Tenho também a concepção de que a legislação de é consenso, em minutos poderá mudar.

[2022-05-21: abri a conta hoje e descobri este post, escrito com alto teor etílico, e que possivelmente ficaria no sumidouro dos rascunhos. Não entendi nada do que escrevi, e a memória etila não me deixa lembrar. Vou deixar como está, como lembrança do quão perigoso é escrever com a emoção, mas mais perigoso é com uma bebida ao lado.]

Blurring writing

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Eu tinha mania de escrever, de escrever, de escrever… melhorei o meu conhecimento sobre a língua portuguesa na forma teimosa de escrever copiosamente e, de forma peripatética, aprender uma concordância ali e uma nova sintaxe acolá. Eu também tinha muito tempo sobrando, e estava no período final do meu ‘boom’ de leitura e, como alertou Schopenhauer (vide frase abaixo), eu precisava regurgitar as palavras em novas palavras, tal como um fã de glutonia que vomita num ciclo de sífifo.

Esta época não foi um período feliz (e existem eles?), mas foi um bom momento de maturidade acadêmica, onde aprendi algumas formas de “aprender realmente”. Então, (re)escrever era uma forma de desenvolver uma figura ideal de mim mesmo, algo que eu queria mostrar para os que conviviam comigo nesta época, e que não era possível demonstrar numa conversa de bar. Ao mesmo tempo, reescrever as minhas preconcepções era uma forma de aprender sobre o meu modo de raciocinar as ideias.

A mensagem abaixo é um texto de 22/03/2013, denominada de “Epístola ao Congresso”, onde eu repliquei em letras o asco que sentia por um pastor evangélico e suas declarações abomináveis daquele momento:


Escrevi uma carta:

Dada as declarações que ouvi e li do pastor Feliciano sinto em constatar que a sua representatividade política é totalmente alienada da minha comunidade.

Apesar de conviver com pessoas muito religiosas, não percebo manifestações de extrema homofobia e racismo como a dos sr. Marco Feliciano, deputado que demonstra o que há de mais abjeto e desprezível nas conduções dos direitos do ser humano, com sofismas religiosos que denigrem opções sexuais, negros e mulheres.

Vossa Senhoria pode coadunar com os ideais expostos pelo pastor Feliciano, mas entendo que outro representante do congresso com declarações mais sóbrias e sensatas, seria um bom substituto.

Dos imperativos laicos de nossa Carta Magna, e da liberdade de expressão, defendo o direito deste pastor de ser preconceituoso rancoroso como o é, dentro dos ditames de suas crenças religiosas.

Seu pensamento enviesado pela religião pouco me importa na verdade. O que ele não têm o direito é de ofender uma imensa população de brasileiros, rebaixando-os publicamente em declarações a uma categoria de cidadãos inferiores.

E até o presente momento, sua conduta perante esta comissão deveria ser cerceada pelo secularismo das decisões e posicionamentos lá tomadas, e não pelo proselitismo da intolerância religiosa, como é o comportamento atualmente que vejo pela mídia.

Penso que é um dever moral, principalmente perante os preceitos religiosos que embasam o amor e respeito ao próximo, retirar o apoio ao preconceituoso pastor na comissão em que preside.

E é neste ponto que solicito à V. Sª. sua compreensão quanto a necessidade de um presidente de comissão possuir, pelo menos na imagem, a postura de um articulador e colimador de vozes dissonantes, transformando-as em decisões políticas que satisfaçam o interesse público. E que perceba que o pastor que lá se encontra, possui o perfil totalmente contrário, semeando a cizânia até mesmo entre os membros parlamentares da comissão, enquanto sua presença na presidência causa dissabores em diversas esferas da população.

Minha intenção é de sensibilizar este egrégio Congresso a se identificar e eleger com lideranças políticas que sintetizem ideais humanos universais, numa analogia religiosa, separando o joio do trigo. Não é fácil, mas não é impossível.
—–

Como afrodescendente, tendo uma mãe e esposa como exemplos de cidadania e amor, e amigos homossexuais, este parlamentar excretou o que há de mais venenoso e abjeto da torpeza religiosa.

Mas ele possui todo o direito de o ser.

Contudo, penso que ele não deve ter o direito de arrotar discriminações no Congresso Nacional como se representasse a imensa maioria da população brasileira. E muito menos possui a envergadura moral para presidir uma comissão parlamentar, a qual vilipendia em suas pregações religiosas.

A carta acima, foi enviada para os seguintes deputados da bancada do PSC (partido que possui em seu quadro representantes religiosos conservadores de tendência extrema direita, consistindo em sua maioria de católicos e outras denominações pentecostais):

ANDRÉ MOURA PSC/SE
ANTÔNIA LÚCIA – PSC/AC
CADOCA – PSC/PE
COSTA FERREIRA – PSC/MA
DELEY – PSC/RJ
ERIVELTON SANTANA – PSC/BA
HUGO LEAL – PSC/RJ
LAURIETE – PSC/ES
LEONARDO GADELHA – PSC/PB
NELSON PADOVANI – PSC/PR
PROFESSOR SÉRGIO DE OLIVEIRA- PSC/PR
RICARDO ARRUDA – PSC/PR
STEFANO AGUIAR – PSC/MG
TAKAYAMA – PSC/PR
ZEQUINHA MARINHO – PSC/PA

Lembre-se, de que eles acabaram de aumentar as custas de viagens (que em alguns casos representam quase 200% do valor que recebem como salário parlamentar), aumentaram cargos comissionados (média de R$ 150.000,00/ano por cargo comissionado) e elegeram como presidente do Senado um político que carrega uma ficha criminal mais longa que dos chefões do PCC, com acusações de peculato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, uso de documentos falsos. 

Eles estão literalmente, cagando e andando, para a nossa insatisfação, e não será uma missiva como acima que irá faze-los mudar de opinião. Isto seria ingenuidade.

Para mim, serviu para desopilar o fígado (o que restou dele…).

Sandro Silva


Acho engraçado em como o estilo empolado e cabotino não mudou tanto nestes últimos anos, acho que em decorrência do ambiente em que trabalho. Da mesma forma, lembrei como eu gostava tanto de ler e escrever para os outros, com um ânimo quase que juvenil. Um lado impertinente de meus textos e de minha personalidade nesta época, era a minha mania de expelir números e estatísticas nos textos, algo que, quando mal empregado, elimina qualquer possibilidade de airosidade.

In order to read what is good one must make it a condition never to read what is bad; for life is short, and both time and strength limited.

Arthur Schopenhauer em “On Reading and Books”

A piacere

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Acabei de ler o mangá “Nodame Cantabile”, uma leitura que iniciei errado: só lendo.

🙂

Este mangá exige, infelizmente, a leitura com os ouvidos, já que a estória acompanha vários eventos musicais com as personagens. E se o leitor deixar de ouvir as referências musicais, e ler estritamente, perderá um oceano de música…

Então, numa tela abri o mangá e na outra o youtube, e conforme iam aparecendo as músicas eu buscava-as em vídeos… e foi uma imersão musical maravilhosa. A revista deveria vir com um CD (isto é coisa de pessoa anacrônica) ou vir com uma playlist em algum aplicativo.

Gostei tanto do mangá, que num surto psicótico, comprei um instrumento musical… coitada da Liz.

I write as a sow pisses.

Wolfgang Amadeus Mozart

As mil facetas de Sidney Lotterby [34]

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Acho que a cerveja que bebemos quando ouvi “Project 1950” dos Misfits junto com o Maurício (nesta fase já desistindo da produção da ‘Bitchô Records’) evaporava ainda na boca, do quanto ríamos e curtíamos aquele disco.

Estou escrevendo estas poucas linhas sobre este disco maravilhoso de covers pois estou ouvindo as músicas originais como a de Conway Twitty (Only Make Believe), que foi reproduzida pelo Robert Gordon no disco “Is Red Hot” em 1989 (este produzido pela ‘Bitchô Records’ 🙂 ).

Éramos uns desajustados … olds romantics with spiked hearts …

As mil facetas de Sidney Lotterby [33]

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Estou numa fase de leitura asiática, entenda-se, mangá.

Sou um analfabeto em grande nomes da literatura asiática, mas mangá tem uma longa história pra mim desde que entrei no curso de Física na UF.

O Bitchô não se interessava, achava algo interessante em alguns aspectos, mas que não poderia suplantar a imersão que você tem nas ‘hard words’.

Não sei dizer, insisti algumas vezes, e vi que existia uma parede para ele neste universo sobre o qual me interessava.

Nos últimos anos de sua vida, ele voltou a manter algum interesse, mas algo muito específico, com prévias sinopses das pessoas que recomendavam. Tinha que ter um ‘sentido’ alguma coisa pra ele neste sentido, como ‘Retalhos’ de Craig Thompson que trata da relação familiar e a situação de abuso infantil, algo mútuo para as nossas realidades desde a infância.

Talvez o lado da fantasia fosse demasiado para ele, um conceito que também que mais o aproximou de Vonnegut do que Asimov.

Para mim, o universo de Carl Bark e do estúdio Ghibli eram tão entrelaçados quanto o microverso que Marcial Lafuente Stefania me apresentou.

Voltando ao mangá, eu hoje leio como uma alienação, principalmente nas demografias shounen ou shoujo, e também para praticar a leitura do inglês na sua forma mais coloquial, já que estes gêneros possuem várias idiossincrasias e ‘phrasal verbs’ linguísticos para quem mal lia abstracts.

A alienação é boa, já que perco algumas horas esquecendo do mais-valia, lendo. Neste momento, estou lendo One Piece (comecei a ler hoje, na verdade), e começando a perceber que é algo interessante… mas isto vou deixar pra escrever noutro dia.

Deixando a alienação de lado, a cultura asiática possui tabus e não-tabus¹, o que pra mim é muito enriquecedor no aspecto de imersão numa cultura tão distante (e próxima?). Por outro lado, a abordagem de alguns temas me incomoda.

O suicídio do Maurício, todo o processo anterior de seu sofrimento, é retratado em mangás que tratam deste tema. Nada destes clichês de relativismos como ’13 reasons why’, mas sim da internalização do sentimento de querer findar.

E neste ponto, a cultura asiática bate qualquer manual de psiquiatria, porque normaliza a ressignificação da ideação do suicídio de forma artística, algo impensável para a ‘cultura’ ocidental.

Neste contexto, existe um ‘universo’ de como compreender este fenômeno no panorama asiático, sem o óbice do (pré)julgamento, mas isto também é assunto para um (longo) texto.

O quero dizer hoje, é que a leitura de mangás (da mesma maneira que qualquer disco do Marcelo Nova) me lembra do Maurício:

That’s my atypical girl, de Morita Renji

É interessante de como isto me afeta? Sim. Posso interpretar neste momento? Não.

Mas vou continuar a leitura…

¹ vou denominar na forma de um neologismo sobre o algo que ainda não tenho a imersão cultural suficiente.

As mil facetas de Sidney Lotterby [32]

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Quando eu bebo, me torno alguém muito desprezível (mais do que sóbrio). As poucas conveniências e costumes sociais são ignoradas e começo a tagarelar qualquer barbárie só para manter o foco da atenção em mim (sim, tenho uma “baixa” estima).

A vantagem quando eu ficava perto do Bitchô, é que ele ficava tão bêbado quanto mas conseguia manter uma elegância na conversa e contornava as minhas grosserias e descortesias (vantagem da amizade, digamos). Hoje passo vexame sozinho. 🙂

Mas quando conversávamos só nós dois, não havia limites. E aqui é um lado interessantíssimo de sua personalidade; ele sempre estava antenado em todo tipo de notícia internacional e dominava seus contextos históricos e culturais. Yemen, Myanmar, Cashemira, Sabra, Chatila, rohingyas, eram palavras comuns em suas falas, citando de cabeça os políticos ou militares responsáveis pelas atrocidades.

Ele era, num sentido estrito, um humanista, que demonstrava alta confraternidade com estranhos, e isto era o que cativava seus amigos. Este sentimento de irmandade vinha um pouco da nossa interpretação de herança evolutiva, uma origem comum biológica, que tornava uma pessoa de vínculo sanguíneo tão amiga quanto um estranho de primeiro encontro. Aqui o humanista “estrito” ampliava a sua atenção e seu carinho se ele reconhecia no interlocutor as mesmas características humanistas (meter o dedo na ferida como São Tomé).

Fazia parte de suas leituras regulares, assuntos sobre genocídios, limpezas étnicas/religiosas e outros conflitos militares ou não. E geralmente em nossas conversas noturnas, abordávamos estes assuntos, já que num churrasco ou num encontro mais ‘alegre’ estes assuntos são “inconvenientes”.

Lembrei destes tópicos que conversávamos, quando assisti há 3 semanas na tv um relato de uma médica brasileira relatando um atendimento que ela fez na primeira semana da invasão russa no território ucraniano, descrevendo uma menina de oito anos de idade que foi estuprada sequencialmente por 15 homens.

Se o Bitchô estivesse vivo, desdobraríamos algumas horas sobre o conflito bebericando uma cerveja, citando sem medo esta tragédia mas sem ser indiferente ao sofrimento humano.

E isto talvez fosse um senso do porque ouvíamos punk rock. Digo isto porque quando você lê ou assiste tanta desgraceira que a espécie humana perpetrou contra o seu próximo, você começa aos poucos, bem aos poucos, a se tornar um existencialista, que identifica-se como um ser sócio-histórico dependente de mecanismos e regras sociais e econômicas que determinam o seu modo de vida (ou de morrer). Não nascer herdeiro de fortuna ou não jogar futebol, era padecer na existência; e esta “assimetria” social-econômica se transformava em reflexão em uma letra que torna-se uma epifania quando se é um garoto ouvindo música do rádio que tocava na sala de casa:

Estava deitado na cama

Conversando com a minha mulher

E com a TV ligada

Num desses jornais qualquer

Meia hora de chuva

E esta cidade já tá toda alagada

Treze corpos achados

Na favela que foi soterrada

Aqui ninguém vai morrer no Vietnã

Aqui ninguém vai Rá-Tá-Tá-Tá no Vietcong

Os garotos daqui não vão amar ninguém

Aqui se morre de fome, antes de ser alguém

So let’s go baby

Senão a gente vai perder o trem

Senão a gente vai perder o trem

E é tanto canal que eu já nem sei onde é que eu boto

Com uma mão na sua coxa e a outra no controle remoto

Se a malária é amarela e a cólera verde bandeira

Nós somos o quarto imundo, colorido pra encobrir a sujeira

Aqui ninguém vai morrer no Vietnã

Aqui ninguém vai Rá-Tá-Tá-Tá no Vietcong

Os garotos daqui não vão amar ninguém

Aqui se morre de fome, antes de ser alguém

So let’s go baby

Senão a gente vai perder o trem

Senão a gente vai perder o trem

Eu desci cá pra selva, toda plantada de asfalto e néon

Onde fica esquisito o que na tela já não era tão bom

Uma mulher da rua me conta sonhos de alegria e fartura

Seus olhos como estrelas nesta noite cada vez mais escura

E lá no bar da esquina mais um profeta cospe fogo no ar

Fogo que nem esta chuva vai conseguir apagar

Uma criança sem braço, deitada no banco de jardim

Seu choro é alto e demente, agora ela olha pra mim

Esta letra chama-se “Muito Além do Jardim”, do Marcelo Nova, um dos melhores discos de rock brasileiro que você poderia ouvir e o título da música é uma referência ao filme preferido de Peter Sellers, mas isto é história para outro post.

Quando o Maurício ouviu esta música num dia qualquer no meio de uma semana qualquer de 1991, as rádios tocavam de forma nauseante a cover “Era um Garoto que Como Eu Amava os Beatle e os Rolling Stones”, previamente gravada pelo grupo “Os Incríveis” e que era originalmente uma música italiana gravada por Gianni Morandi.

O destaque em vermelho foi um “clic” para ele, uma incisão naquele cancro purulento do jabaculê das rádios para destilar todo o ranço cultural de mercado de consumo que ele era submetido na versão piegas do Engenheiros do Hawai.

A partir daí, ouvir Inocentes e ler Bertrand Russel eram consequências inexoráveis.

Nas vezes que ele quer me confundir
Sorri e pede licença para sair
Parece que finalmente vai sumir
Mas é quando eu mais devo me prevenir
Desse mal que habita em mim

O Mal Que Habita Em Mim
Camisa de Vênus

Cimarosa

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Hoje topei a unha encravada com ‘Il matrimonio segreto’, uma ópera bufa deliciosa de ouvir, com casamentos secretos, desejos oblíquos como o olhar de Capitu e um tom jocoso do início ao fim.

Lendo os librettos (me perdendo entre as traduções e as versões), reconheço que sem a pirataria eu perderia a oportunidade de conhecer muita coisa, não só as obras de Cimarosa mas de outros tantos músicos e estilos.

Quero agradecer aos que reduziram a minha ignorância, e tornaram a minha existência mediana em algo de valor (ainda que só para mim):

#bypekeno pelas bokadas da periferia de SP

#associate-david-lau de Louis Prima a Deftones, com muito soul e jazz

#Dannyv284 hardcore und grind

#jakej porque ninguém fez o mesmo com a MPB brasileira?

#The chill Room umpop diferente

#Joygen Odiongan como você conseguiu gerar esta base de discos?

#lende-louiber pop and blockbuster’s soundtracks

#Joe Fallisi

#thatoneguyfromthatoneshow metal und illicit drugs

#Nemo_bis raridades anglófonas, tupiniquins e italianas

#MY WORLD of MUSIC rarities and much more

#cozan19 metal, hardrock, pop e rock

#poorskeleton jazz, pop, fusion and fantasy

#DrumzSpace78 The Beatles

#Archiv3Dud3-42 Trash, Black, Doom e Grind Metal

#Musical_Lover_1980 Let’s good times roll

#1976catcats Punk is not dead!

#ajschaefer Elvis is Reborn

Para a música clássica, rythim’n’blues, jazz, que são incontáveis, reconheço inicialmente aqui :

#associate-jovelyn-comilang

#Veson Tang

#Legado Carlos Chava

#Dionysos Vorax

#vangi1742

Nestes últimos três anos, estas pessoas, as quais nunca troquei nenhuma palavra, forneceram tantas referenciais musicais que gravá-las em suporte físico seria uma estupidez tamanho o volume de discos e músicas (catalogar os endereços/sites necessitou um tempo valioso, imagine gravar em HD ou em nuvens.).

Até hoje, não tinha ouvido nenhuma peça de Cimarosa. A partir de hoje, relacionei uma opereta bufa com Móliere e Mozart, e por isso, não há retribuição possível, de minha parte, em agradecimento.

Vanity plays lurid tricks with our memory

Joseph Conrad

All Gold Canyon

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Nunca canso de me surpreender nas minhas bobícias idiossincráticas … trabalhei a manhã inteira ouvindo e lendo the lyrics do disco “Melon Collie And The Infinite Sadness” da banda The Smashing Pumpkins. Quando lançado, muitas das músicas viraram hits e até abertura de programa televisivo. Ainda vou escrever sobre este disco no futuro…

Depois de ouvir ele duas vezes seguidas, resolvi procurar outra coisa pra descansar as vesículas auditivas. Achei uma coletânea de ’71 dos The Searchers, onde a primeira música é “Needle & Pins”.

Needle & Pins ouvi pela primeira vez com os Ramones, com aquela pegada bem bubblegum, pegajosa na primeira vez que ouve. Na segunda vez que ouvi, era cianoacrilato de metila direto no cérebro.

Voltando ao disco do The Searchers, encontrei uma versão da música “Sea of Heartbreak” que Johnny Cash iria regravar em “Unchained” de 1996 (um disco que tenho e que é um dos melhores que já ouvi na vida) e, a música, alcançou até o cinema sérvio (Barking at the Stars).

Adoro quando as autoreferências vão se encontrando e se fechando em si mesmas, pequenas egrégoras que indicam quais eram as influências de um cantor/músico, possivelmente ouvia enquanto defecava num pequeno banheiro de um posto de gasolina de estrada de chão no interior do Mississipi.

Despite all my rage, I am still just a rat in a cage
Someone will say, “What is lost can never be saved.

“Bullet with Butterfly Wings ” dos The Smashing Pumpkins

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Path of Assassin

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Depois de vários dias, cheguei no volume 8 de “Path of Assassin” um trabalho conjunto de Koike/Kojima posterior a saga do “Lobo Solitário”.

Eu não leio muito manga do tipo ‘Seinen’, mas estes autores são ímpares:

“Things are different today”, I hear every mother say
Cooking fresh food for a husband’s just a drag
So she buys an instant cake and she burns a frozen steak

And goes running for the shelter of her mother’s little helper
And two help her on her way, get her through her busy day

Doctor, please, some more of these
Outside the door, she took four more
What a drag it is getting old

Mother’s Little Helper – Rolling Stones

As mil facetas de Sidney Lotterby [31]

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Sempre li sobre Captain Beefheart, seus discos e referências musicais. Muito jovem, as coisas esparsas que ouvi não representavam para aquele impúbere algo de mais valia (os vinis da banda eram inacessíveis na mesma proporção das K7). A banda nunca esteve fora do nosso radar, mas acho que nunca ocorreu a oportunidade de o Bitchô baixar ou acharmos numa liquidação de hipermercado.

O contrário aconteceu com Neil Young, desde suas passagens por Buffalo Springfiel e, principalmente, pela Crosby, Stills, Nash, and Young (principalmente por sua participação em Woodstock (1969)).

Pois então, passei os últimos quinze dias ouvindo os discos “Mirror Man” (1971) do Captain Beefheart & His Magic Band e “Harvest” (1972) de Neil Young, dois álbuns viscerais nas letras e nos arpejos.

Como já escrevi antes, é um pouco doloroso ouvir tanta coisa boa e não ter ninguém para comentar, criticar, ou, somente ouvir enquanto beberica o suco do capeta.

Estes dois registros musicais valem uma boa noitada solitária, com uma mesa cheia de CD e livros, e várias garrafas.

Baby person told Elixir Sue
Listen to me baby
Gonna tell it to you
You gonna need somebody on your bond
To say “just bear this in mind
A true friend is hard to find”
You gonna need somebody on your bond

Tarotplane, by Captain, my, Captain

Diabolus in Musica

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Sam Dunn referencia no documentário “Metal: A headbanger journey” um vínculo entre um aspecto da música clássica, ou melhor, algo que foi banido dela como prática desejável, o trítono do diabo, com o rock moderno.

Seu uso, do trítono, na música clássica traz inquietação musical e um desconforto fisiológico. Quem já ouviu a introdução da música “Black Sabbath”, com um trítono invertido na guitarra do Iommi que traz uma apreensão que será reforçada pelos versos, e que resulta com certa efetividade algum sentimento de temor na plateia.

Esta lembrança veio por uma leitura sobre o Catálogo Köchel, que teve a audácia de relacionar os trabalhos de um demônio, Mozart, com 827 peças enumeradas.

Tal como Robert Johnson, Mozart vendeu sua alma ao coxo-manco para transcender qualquer limite na música.

Break loose from the chains
Rise above the waves
Fighting in the darknеss
Dancing in the light
Break out of your cage
Turn anothеr page
Drowning in the river
Swim against the tide of life

Rivers – Epica (ouça a versão ‘a capella’)

Leider nicht von Johannes Brahms

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Estou encarando a Op. 314 de Strauss, vulgarmente conhecida como “Danúbio Azul” (An Der Schönen Blauen Donau).

Fora o início de “2001” de Kubrick, valsas eram somente para concursos de dança de salão.

Até que hoje eu estou ouvindo repetidamente uma versão da Orquestra Estadual Húngara, regida por Janos Ferencsik, e reinterpretando uma peça tão célebre como se estivesse ouvindo pela primeira vez, com minha cabeça saracoteando de um lado para outro ao ritmo 3/4 (ou seria 9/8?, nunca sei…).

O Último Poema

Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Manuel Bandeira

Trevas sobre Trevas

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A apropriação do espaço urbano comum e do tom da narratologia social de costumes pelo pentecostalismo é visível em tantas perspectivas e segmentos, que escrever sobre isso requer um tratado de Sociologia. Se juntar aspectos teleológicos então… mesmo se existissem folhas na mesma quantidade de elétrons que existem no universo, não daria nem pra finalizar uma introdução.

A hegemonia da ideologia de Lutero se vê hoje na moção provinciana do vereador Rodini da Câmara Municipal de Ribeirão Preto para um beijo gay numa peça publicitária de um personagem fictício que foi veiculada na Noruega, da mesma forma que vemos ‘pregadores’ em lotações pelo país afora.

Talvez, o messianismo milenarista esteja aí para ficar, como uma resposta reinventada para um mundo cada vez mais tecnologógico e virtualizado no bit. Talvez, um novo restauracionismo aconteça para os avanços do próximo século.

Seria interessante saber disso daqui há cem anos…

… mas o que acontece hoje, já é interessante.

Participei de um evento litúrgico de uma denominação romana católica na semana passada. Tirando a prática de agachamentos, percebi na fala de duas pessoas do evento, apóstolos da fé da mitologia cristã, uma crítica desvelada e cínica ao Evangequistão.

Chamou-me atenção isto, pois este é um pensamento que todo católico romano bafeja no círculo íntimo, mas raramente em público.

Nesta segunda-feira, lendo um blog de política, onde o autor é acólito da Carta aos Romanos, ocorreu uma crítica aos vendilhões pentecostais de maneira gratuita, que jamais li naquele fórum.

A proximidade dos dois eventos, agregado a noemação de um teísta ‘terrivelmente’ teísta para o mais alto cargo do poder judiciário (agora além dos fiscais de c*, teremos um togado para apreciar os casos de c*), talvez tenha virado uma sofreguidão de ressentimento dos papistas contra os reformados, não sei… mas, como ateu, fiquei bastante curioso.

É estimulante a expectativa do que virá a frente …

Estou ouvindo uma playlist em elegia ao Leonard Cohen enquanto escrevi estas toscas palavras:

I see you standing on the other side
I don’t know how the river got so wide
But I loved you, baby, way back when
All the bridges are burning that we might have crossed

Tower of Song, Leonard Cohen

Frühlingsstimmen

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Procurando algumas coisas novas no baú, me deparei com um disco de algumas valsas do Strauss e, pra minha grata surpresa, descobri que ‘Vozes da Primavera’ tem uma ‘letra’. Levei 50 anos literalmente pra (re)descobrir isto… que tremenda perda de tempo…

Tá um dia divertido hoje…

funkelnd ferne wie Sterne, ah ah zauberschimmernd wie des Mondes Strahl, ah ah ah ah wallt durchs Tal!

Strauss, seu safadinho…

Síndico do Brasil

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Uma das grandes vozes da MPB foi sem dúvida Tim Maia. Talvez a fama do problema com drogas sobrepujou a fama de suas qualidades musicais.

Estou ouvindo este disco do ano de 1970, com alguns de seus grandes sucessos. É uma concepção musical diferente de muito do que se ouvia pelo jabaculê. Ouça ‘Primavera’, romântica mas que destoava de tudo (clichês da dupla Erasmo-Roberto) o que era romântico na época desde a composição musical até o uso da voz.

Um pusta disco para ouvir em estado etílico o suficiente para desfrutá-lo …

E na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer
Enquanto o outro ri

Tim Maia

Fuckin’ Degenerates!

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Com a morte de Mick Rock, talvez um modo de ‘ver’ música tenha se ido.

A foto de Iggy, lascivo no olhar e com o pedestal alinhado; o cromatismo de cores do Ramones; a expressão orgástica de Rory…

Talvez na época do streaming isto não seja mais relevante, mas na época das capas padrão 45 rpm, a imagem do LP era um panorama IMAX de entrada para o conteúdo musical. Imaginem uma foto com uma ótima composição…

… se a música fosse boa, então…

Fiquei sabendo pela morte de Mick, que ele também fez a fotografia de “Rocky Horror Picture Show”. Vou reassistir o filme com atenção especial na ‘velocidade do obturador’.

Question: You recognised something special in the superstars you worked with early on. What qualities did these people have in common and what did you learn from them?
Well, they weren’t superstars when we started working together! But I did see them in that light. Besides being very talented lyrically, they also seemed to take a lot of chemicals. They acted and looked like the same people I had been studying at Cambridge: the English Romantics, the French surrealists and the American Beats. They all seemed to have one thread in common, as different as their work was. They were fuckin’ degenerates!

Mick Rock

Live Sh*t

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Estou ouvindo um álbum ao vivo de 1989 da banda Metallica… Bons tempos.

Com exceção da passagem dos Ramones pelas paragens tupinambás, jamais assisti a um grande show, sempre foram bares pequenos e bandas quase obscuras (niche genre) para o entretenimento do ‘big time’.

A minha sorte é que tive acesso aos filmes e álbuns que me permitiram imaginar como seria estar nestes eventos que aconteceram antes de nascer e irão acontecer depois do meu passamento. A massa musical em policarbonato que possuo torna-se anacrônica a cada dia que passa, mas ainda é por ela que ‘viajo’, ainda que o streaming tem tomado meu tempo com glutonia.

Além disso, as raridades que nenhum streaming consegue fornecer mas que a pirataria acha graça, é a minha principal crítica a uma imensa gama de acesso em banda larga, mas rarefeito de conteúdo.

Hoje, os policarbonatos são raríssimos em lojas físicas e nas virtuais são economicamente impraticáveis. Possuir um acervo, ou pior, ampliá-lo, além não alcançar jamais a finitude é um exercício de egocentrismo sem o tripé da sustentabilidade.

Jogar fora tampouco é viável enquanto os aparelhos leitores ainda funcionarem. Vender é um ultraje a tanto esforço e tempo dedicado; e o preço obtido não fará justiça ao conteúdo.

Neste momento quando acabo de escrever este parágrafo, ouvindo a 7ª do Beethoven regida por Karajan por um streaming pirata, lembro que eu gostaria de ter o CD original desta peça… ter assistido ao vivo.

Não é aceitável isso no sentido mais estrito, a pirataria, mas também não posso deixar de apreciar algumas coisas porque a viabilidade de acesso é de difícil condição.

Apreciar arte deveria um direito humano universal…

Estórias da Caserna [10]

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Numa reunião que participei hoje, utilizaram o nome do meu pai de forma preconceituosa e racista.

Quem me conhece e conhecia meu pai, sabe que a expressão é pejorativamente agressiva na questão racial, mas principalmente, na caracterização regional.

Acho que fiquei um pouco (é possível?) lívido, mas não esbocei nenhuma reação enquanto todos riam. Qualquer comentário de minha parte poderia constranger as pessoas presentes, e algumas delas não poderiam jamais ser constrangidas.

Mas entre a ofensa e a memória, pensei em quantas vezes meu pai não tivesse ouvido algo similar e ficou calado como o filho dele ficou.

O racismo estrutural manifestou-se hoje no meu silêncio.

Curiosamente, o nome de meu pai, que já foi muito comum na Idade Medieval alcunhando até papas, chamou minha atenção pela primeira vez no famoso livro de Masoch. Mas isto eu nunca falei pra ele.

Estórias da Caserna [9]

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Onde vivo, o racismo é uma realidade ubíqua. Basta olhar em que é que manda e quem é mandado, e olharemos um padrão e regularidade de tez bem distinto entre os dois grupos.

Mas isto não é novidade…

Nesta semana, faleceu uma colega. Pouco conhecia dela além das conveniências sociais trocadas no ambiente de trabalho.

Há uns dez anos atrás, quando estive na sua sala, chamou-me atenção a iconografia sobre sua mesa de trabalho, que representava as formas anímicas da mitologia que ela acreditava. Nunca tive contato mais estreito com pessoas de sua crença, e a variedade de divindades era algo que me fascinava naquela época e até hoje me chama a atenção; uma grande lacuna de meu conhecimento sobre este vasto universo.

Foi chocante para mim, como ateísta, quando ouvi que alguns evangélicos incomodavam-se com o imáginário religioso de sua fé, e que procuravam meios e justificativas para retirar aqueles adereços de sua estação de trabalho.

Fico imaginando o ódio e preconceito dos evangélicos, o suficiente para superar todas as constrições sociais existentes (escritas e não escritas, faladas e não faladas) para expor tamanho ranço religioso de forma aberta e pública, escancarada. Sinceramente, tive uma certa aflição, pois se eu expusesse o rídiculo daquela situação, o ranço se voltaria contra mim (um ateu “encardido” como já me disseram), e eu seria uma abominação muito maior.

Nunca conseguiram fazer nada contra esta colega; mas sinto que a minha covardia favoreceu um clima menos velado de intolerância religiosa onde trabalho.

Possivelmente tenha ocorrido um isolamento laborativo ou outra ‘estratégia’ de ‘competividade’. Nunca saberei, e só posso lamentar a inação de minha parte.

Quem não foi nunca vai ser
Quem já é sempre será
Gira o mundo, roda vida
Na volta você vai voltar

dos mestres Ataulfo Alves e Carlos Imperial

Allegro e Affetuoso

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Concertino

Acho que a minha vivência com música nunca foi tão prazeirosa como agora. Entre as aulas, o meu serviço, tenho um pequeno espaço para apreciar e estudar o que ouço de forma tão caótica.

Isto é um reflexo do privilégio de ter sido educado o suficiente para ouvir Dead Kennedys e Jessé, mas também um acaso, uma coincidência, de vários estímulos não-intencionais que me levaram por um caminho não planejado.

Ouvir música de forma contemplativa e solitária (melhor modus operandi) é hoje uma forma de resistência e de anacronismo numa proximidade de gerações acostumadas aos algoritmos de streaming e de podcasts.

Ripieno

Fico a imaginar que se eu tivesse aprendido a executar alguma melodia (de forma satisfatória) eu teria tido algum outro destino, entre fazer parte da entourage de G. G. Allin ou receber elogios de Yo-Yo Ma. Nestes exercícios de rica imaginação, eu canto no banheiro já satisfeito com o resultado, ainda que há momentos em que as dúvidas … “como se faz este acorde? … “que instrumento é este? … “pela voz, ela deve ter bastante leitinho?”…

Tutti

Há um rico universo que estou descobrindo com a música clássica, desde a relação intempesta da ‘Eroica’ de Beethoven com Napoleão Bonaparte até técnicas de Luteria, enquanto ouço música popular (de Noel Rosa a Soundgarden) com um novo ‘ouvido’ de referências.

E aqui, a minha maior tristeza: num ápice de acesso ao que há de melhor produzido pela espécie Homo sapiens, minha surdez avança de maneira galopante. Estou no quinto otologista sem a mínima expectativa de diagnóstico após uma quantidade absurda de exames médicos; e minha qualidade de vida só deteriora de maneira infame.

Por isso, sou feliz pelo o que pude ouvir e apreciar. Como ateísta, tenho um pequeno sofrimento psicológico de não poder mais ouvir os “Concertos de Brandenburgo” de Bach ou Cesária Évora cantando “Negue”.

Quando este processo de surdez finalizar o seu percurso, espero ter algum resquício de células ciliadas auditivas para ouvir a minha esposa brigar comigo. Eu adoro ouvir a voz dela, mesmo renhindo das besteiras que faço.

When you’re aching and cracking up
Let me know when you’ve had enough

Till Deaf Do Us Part – Slade

Chacina

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Eu adoro biologia… eu me atrapalho bastante nos livros, mas lá ‘fora’ ou no meu corpo, me maravilho com descobertas e conhecimentos.

Eu acho que sou uma pessoa tolerável, pois procuro conviver com qualquer tipo de animal que adentre na minha propriedade (menos o gênero Mus e Loxosceles).

As aranhas são as que as pessoas que me conhecem mais estranham… gosto de manipulá-las, e geralmente faço ‘mudanças’ conforme a época chuvosa na minha região.

Hoje foi um dia muito triste… por um total descuido, matei uma família do gênero Phoneutria sem querer.

Momentos antes do acidente.

Estou arrasado.

our babies are crying louder
It’s pounding on your brain
Your babies are crying louder now
It’s pounding on your brain
Your wife’s screams are stabbin’ you
Like the dirty drivin’ rain

The Ballad for Hollis Brown, do tio Bob

En vous murmurant des propos d’amour

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Estou, há duas semanas, ouvindo ‘Carmen’ de Bizet.

Hoje, estou tentando ultrapassar a cerca do francês e começando a perceber que o que estou lidando é um tipo de peça musical que influenciou aqui e acolá a cultura popular, mas ouvindo ela no todo, lendo o libretto (francês-inglês) é fácil de perceber que é algo sublime em algumas passagens.

Ainda há muito em que absorver do contexto e narrativa da ópera, mas é uma pena que ela seja relembrada somente pela ária Habanera e não por sua totalidade.

É uma pena que leve tanto tempo para saber apreciar uma ópera, seu momento histórico, seu zeitgeist. . .

Estórias da Caserna [8]

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Esta é uma reminiscência de quando ingressei no melhor ambiente de trabalho do planeta.

Enxotaram-me para uma salinha de 1,8×3 m onde a minha principal atribuição era controlar a ‘folha-ponto’ de um posto de saúde e preencher formulários. Tais tarefas não tomavam mais do que uma hora e o restante do tempo ficava sentado, olhando para as paredes, literalmente.

Passado uns quarenta dias, convocaram-me para uma triagem. O pessoal tinha percebido que naquela leva de nomeados tinha muita gente com graduação em ensino superior.

Só que eu não era um deles…

Assim, quando constataram que eu não tinha nenhuma qualificação, enxotaram-me para um setor que parecia uma assessoria mas na verdade a maioria não fazia nada. Então imagine alguém como eu, recém-chegado, analfabeto funcional e que nem sabia o que era um livro protocolo. Mas ainda assim, tive que aprender o que era um livro protocolo senão não faria nada mesmo.

A parte boa desta época foi que fiquei sentado ao lado de um ‘assessor’ que entendia de muitas coisas e que tínhamos diversos livros de medicina ao nosso dispor. É claro que o canhestro aqui impressionou-se com um livro de Medicina forense, pois ver tantas formas de matar e morrer descritas com aquele linguajar hermético era algo inusitado.

Foram ótimas conversas, neste período, com o ‘assessor’, que com o seu tom professoral me explicava desde coisas avançadas como Fisiologia Humana até os princípios básicos de higiene pessoal. É claro que não era todo o dia, mas isto ajudava a passar o tempo.

Ler os livros de medicina não eram pra mim naquela época, pois como analfabeto funcional, se eu não conseguia ler uma notícia de jornal, o que eu entenderia daquilo? Eu olhava as figuras… e isto também ajudava a passar o tempo.

Neste ínterim, apesar de ser um bom alvo de chacota para o grupo face o meu bucolismo crônico, eles viram que eu era um inútil mesmo, e me enxotaram para um setor operacional para ‘tirar xerox’.

E, assim, iniciou-se a minha jornada profissional.

Ainda que eu fosse um desqualificado naquele tempo, ter saído da ‘ponta’ e tocado a beirada daquela ‘panela’ fez uma diferença enorme na minha vida e nas opções futuras que tive. Qualquer um diria que foi uma jornada de crescimento e aquela besteira de autoajuda profissional que serve pra vender livros; eu digo que foi sorte, o acaso.

Não é de se orgulhar disso, mas é bem provável que se eles decidissem que eu voltasse para o posto de saúde, e eu ainda estaria controlando folha ponto e olhando para as paredes. Conheci diversas pessoas que não tiveram as oportunidades que eu tive, e que ficaram no mesmo setor, fazendo as mesmas operações mecânicas até que se aposentaram. E elas eram pessoas tão proficientes e competentes… mas só posso lamentar por este fato.

Post Scriptum: O ‘assessor’ virou secretário meses depois que eu saí de lá… tal como Pero Vaz Caminha, devia ter pedido um cargo de assessoria pra ele.

As mil facetas de Sidney Lotterby [30]

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Acho que numa noite, eu e a Liz fomos fazer o ‘velho programa’ com o B.i.t.c.h.ô, beber e ouvir música, que ele ‘pirateou’ o disco “Field Commander Cohen”.

Eu já tinha ouvido Cohen antes, mas nunca um disco inteiro, e este era um registro ao vivo da voz e dos versos. Passamos mais de uma hora discutindo a poesia e depois, claro, pedi uma cópia para mim.

Quem não conhecesse o Maurício poderia pensar que poesia e romance passavam longe dele. As mulheres com quem ele teve vivência sabiam que ele tinha tanto a finesse de corvo comendo um olho de um cadáver quanto a mordacidade de Oscar Wilde de ressacada; mas ele sabia amolecer a voz para ter momentos de Sam Cooke ou Marvin Gaye com palavras de um Rudyard Kipling.

Logo, eu não estranhava que um dia nós ouvíssemos Brujeria, e noutro Leonard Cohen.

Como já escrevi, uma métrica e um ritmo com palavras bem escolhidas captavam sua atenção imediata, seja numa música de protesto dos anos 60, seja nas palavras da Gillian Mccain ou nos versos da Patti Smith.

Esta percepção estética aprendi com ele aos poucos, nas bebedeiras e nas tirações de sarro, saia um comentário aqui e acolá sobre o que tocava nas caixa de som ou sobre os livros que ficavam espalhados nos colos, na cama, na mesa,…

Até aquela noite, Leonard Cohen para mim era um cantor romântico como qualquer um. Quando saí trôpego de lá, só via o poeta.

Lembrei desta primeira experiência com Cohen com o Bitchô, porque hoje estou ouvindo “Leonard Cohen – Thanks for the Dance” de 2019, um disco póstumo onde a voz lânguida de Cohen é equilibrada com versos que resultam numa branda e melódica despedida.

A poesia do disco? É Cohen, né? Abra um vinho, e bem acompanhado aprecie o que versos simples podem fazer por sua psique.

And there’s nothing to do
But to wonder if you
Are as hopeless as me
And as decent
We’re joined in the spirit
Joined at the hip
Joined in the panic
Wondering if
We’ve come to some sort
Of agreement

Thanks for the Dance – Leonard Cohen

Traduttore, traditore

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O sentimento de ontem (2014), foi o mesmo que senti lá em ´93.

Naquela, época tinha recém-comprado os quatro volumes de um famoso livro muito utilizado em Ciências Exatas, uma fortuna para alguém tão pobre quanto eu era, onde parcelei em suaves prestações. Quando numa aula, o professor veio falar de um recente artigo que resenhava o livro de maneira validativa de sua tradução. Senti que perdi dinheiro em adquirir um livro com uma tradução tão canhestra e (em algumas passagens) estúpida. A confusão de ‘speed’ e ‘velocity’ era a menor delas, além de conceitos totalmente absurdos.

Na noite de ontem (em 2014), estava resolvendo uma lista de exercícios do mesmo livro, já passados algumas revisões/edições, quando o que parecia exercícios simples eu errava grosseiramente perante os resultados dos números ímpares mostrados no fim do livro. Depois de quatro tipos de exercícios com resultados equivocados, percebi que alguma coisa acontecia, ou eu fiquei mais estúpido do que o normal ou aqueles exercícios e suas respostas foram acometidas do mal editorial dos livros técnicos.

Incrédulo, confirmei depois que as falhas de revisão/tradução persistiam (a ‘speed velocity’ já tinha sido regularizada), mas os exercícios propostos ainda tinham incorreções em função das transformações de sistemas de medidas.

Como podemos fazer traduções tão ruins de livros técnicos ainda?

All of us are victims
Confined by enigmas
Without solution
Your frozen thoughts don’t let you evolve

Slaves of pain – Sepultura

As mil facetas de Sidney Lotterby [29]

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Um dos compositores que o Maurício adorava era Nick Cave. Acho que uma pesquisa no Google não seria suficiente para elencar as qualidades de seus trabalhos musicais (e muitas colaborações). Se fosse possível contar a vida de Cave como uma novela, ela teria momentos idílicos, outros destruidores, e no fim da trama, perceberíamos que a personagem final nunca foi o que aparentava ser; um David Bowie às avessas, mudando constantemente sua interpretação musical, mas sempre com a mesma roupa.

Ghosteen, é o último trabalho de Nick Cave, e é uma das coisas mais legais que ouvi em questão de música e poesia, mostrando um lado muito mais melódico, mais sublime, mas também introspectivo como sempre.

Maurício iria adorar ouvir este trabalho e tenho certeza de que beberíamos muita cerveja ouvindo faixa a faixa, comentando as letras/versos e as referências (que são muitas no universo de Cave), num mundo musical em que se dissipa entre um arranjo e outro..

Ouça ‘Ghosteen’ … e lembre-se de que músicas podem curar ou manter abertas suas feridas…

[2021-04-15: Descobri hoje que o Cave lançou um projeto paralelo neste período denominado ‘Carnage’, com Warren Ellis. Tô absorvendo ele ainda… mas é bom pra caray.]

We are fireflies pulsing dimly in the dark
We are here and you are where you are

De ‘Fireflies’